- Que parte do eu não vou embora você ainda não entendeu?
- Você só pode ter problemas, seu idiota.
- Yo te quiero, sua abobada.
- Para com esses “mimimis”.
- Não paro, eu sou bom com “mimimis”.
- Vai te foder, então.
- Sempre carinhosa.
- Carinho.
E então a gente ri. Não sei ao certo do quê, não é só do diálogo recém travado. A gente ri, de um monte de coisas ao mesmo tempo, de coisas das quais não se pode rir do nada. Deve ser dessa minha insistência em dizer que não vou embora desse lugar que é nosso, por mais que tentes me empurrar, não vou deixar tua inconstância sozinha, sendo inconstante por aí, não posso é quase um dever cívico proteger o mundo de tamanha insanidade. Sim, eu fico, e vou ficando como uma bandeira de defesa pra quem for cruzar no teu caminho. Eu sou legal.
Isso, excelente argumento, fico por que sou bonzinho, e por que sem mim por perto não tens alguém legal a quem recorrer, sou como na musica do Sílvio, o cara que leva teus livros, muito embora tenhas todos os membros e possas carrega-los, tu mesmo. Mas pensa enquanto estás com as mãos livres podes fumar e como eu faço o resto, me completar como escritor.
- Tu não és um escritor. Tu não fuma.
- Sou escritor, sim.
Mas aquilo fica martelando na cabeça, um escritor que não fuma. Droga, talvez eu devesse fumar, mas e minha asma? Daí sim, eu não passo dos vinte e nove. Eu sou quase um atleta jogo de três a quatro vezes por semana, não posso fumar. E é aí que entra o teu dever cívico, tu tens que fumar por mim, para que eu seja um escritor completo, com uma mão seguras o cigarro, com a outra a minha mão e somos um naquele instante e eu sou, por conseguinte, um escritor fumante. E tu o fazes, por que tu também és legal.
- Gosto de cigarro, não.
- Ah, me dá um beijo.
- Queres beijar um cinzeiro?
- Eu nunca reclamei.
- Eu que não gosto, ticata.
Tem sempre uma musica tocando no fundo, pode não ser boa, mas em algum lugar ela ressoa um acorde de nós, uma frase que descreve o teu jeito de dançar, de beijar, de amar. Descreve a tua pele, tua temperatura na minha falta de, teu calor emprestando vida a minha frialdade, sempre, mesmo que o mundo desabe, que o destino desatinado não permita que eu me desfaça no teu sorriso, sempre serás mais canção do que qualquer outra coisa.
- Vou dormir, bate a porta quando sair.
- Eu vou embora, mas não vou- falo sussurrando
- O que tu disse?
- Nada não, boa noite sua idiota.
Sentado no sofá espero que te vás para o teu quarto, bato a porta, desço pelo elevador, me despeço do porteiro, e vou caminhando até em casa, ainda com um resto de beijo quente gravado nos lábios, ainda com tua pele queimando na minha. A cidade me espera, fria, cruel, e sem ti. Minha casa ainda está um pouco distante, mas vou caminhando as lembranças dessa ultima noite que me aceitastes em teus braços, e não sinto frio, medo ou sono. Sempre gostei de caminhar a noite sozinho, sempre há uma canção ecoando, e ela teima em falar de ti.
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