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domingo, 17 de junho de 2012

Tudo pelo cigarrinho

Ele acordou, ainda tinha o gosto do cigarro nos lábios, pensou um pouco, sobre o que havia acontecido na noite passada, afinal, ele não fuma. Tossiu de leve, quase forçando a tosse pra ver se os pulmões ainda respondiam como antes, tudo normal( o que não necessariamente era bom). Olhou pra baixo, tinha conseguido tirar as calças e se tapar, o porre tinha sido grande, mas não tanto quanto era de se esperar.

Abriu a janela, estava escuro, mas já esperava por isso, a luz neon dos prédios suspensos, o deixavam incomodado, havia nascido em um tempo em que só os pássaros e os aviões voavam, tinha medo de altura, pavor seria mais exato, e de repente, quase imperceptivelmente o mundo foi subindo, morava no centésimo oitavo andar de um prédio, e estava longe da cobertura. Mesmo protegido pela janela, olhava sempre reto, não se atrevia a olhar para baixo. Quando dançava com ela, olhava para baixo, pensava nisso, enquanto o neon começava a cegá-lo, lembrou de uma velha canção, amava as velhas canções. Era algo sobre o mundo acabando e eles dançando, o mundo havia realmente acabado, e eles ainda dançavam. Havia sempre o indefinível entre eles, um híbrido de quero não te querer, ou de não quero te querer( que não é o mesmo mas é igual). Ela sempre fazia com que ele pensasse em velhas canções.

Cigarros e canções para ser mais exato, sentiu novamente o gosto do cigarro, e se perguntou por que fumara, a resposta era simples, era pra preencher a falta de gosto, para apagar a aresta deixada pela ausência do beijo dela, para moldar nos lábios algo parecido com o todo que eles tinham pra levar. Pensou em olhar pra baixo, imaginou que dançava com ela, mas era o centésimo oitavo andar, o medo foi maior.

Precisava de algo, olhou pras nuvens carregadas ameaçando chover e ficou tentando achar um restinho do cheiro dela na roupa, daquela ultima dança que foi deles. Olhou o telefone, não havia nada, pensou em escrever um texto impactante, algo que fizesse com que ela o quisesse novamente, largou o celular e pensou:

- Isso nunca funciona com ela.

Deu as costas para si mesmo, pensando que não queria pensar no que pensava. Aquela necessidade de precisar de algo começou a crescer, precisava abraça-la, beijá-la, fazer amor com ela, precisava, precisava, precisava, mas não podia, ela não estava ali a cama nua estava vazia, repleta do vazio dela, daquele lugar no colchão que parece feito especialmente pra ela, e que agora parece só um pedaço de colchão. Caminhou até a porta, abriu-a para o dia( noturno) e apertou o botão do elevador. Caminhava e pensava, tirou algumas moedas do bolso e pensou no que ia comprar. Pegou o maço de cigarros, entregue pela atendente mal humorada, e disse a si mesmo: - No fim, é tudo pelo cigarrinho.

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