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quinta-feira, 21 de junho de 2012

A Infame história de Agustin Lopez

Texto de E. B. Rodríguez



Queria uma bebida forte. Uma dose de absinto, por favor, e um beijo da mulher mais quente do local. Eu a beijaria e a mandaria embora insaciado e ela também, só queria um beijo, nada mais, meu corpo é um templo quase sagrado pra mim, nem o absinto muda isso. Até pensei, por um segundo que uma noite de sexo com aquela total desconhecida, não seria ruim, uma leve excitação me percorreu e eu senti que algo crescia na região da cintura, não dei muita bola, pedi mais uma dose e mandei que ela fosse.
Ela não gostou muito, eu não me importava. Simplesmente, era eu e o líquido verde, pensava se em algum lugar, num universo paralelo, em outra face do diamante quiçá Poe ainda se chapava de Absinto, Wilde talvez, eu queria um papel, peguei um guardanapo e roubei a caneta do garçom, ele quis argumentar, eu não disse nada, mas recuou depois que sua mão aferrada no meu braço recebeu uma resposta negativa dos meus olhos, com louco não se mexe deve ter pensado, gostei da idéia de que outros pensassem que eu era louco.
Um sujeito grandalhão, parou do meu lado e ficou me encarando, eu fingia que não via, queria escrever, não ficar olhando a cara de um otário, metido a macho, ele disse, hei, e eu ignorei, ele repetiu, só que dessa vez com um adendo.
- Hei, seu otário, tô falando com você.
Baixei a cabeça sabia como aquilo terminava, peguei o copo de absinto, ele estava na mão esquerda, pensei, que merda eu sou destro. O sujeito se aproximou, meu movimento não foi muito preciso nem ágil, mas como ele também estava bêbado, o golpe encontrou o meio da testa do grandão. Ele não caiu, mas o sangue o deixou assustado, meus socos não eram fortes, mas quando ele percebeu o que tinha acontecido, já estava no chão.
Me levantei e sai do bar, as duas mãos sangravam, eu não me importava, caminhei pela rua, era uma noite bonita, as estrelas pareciam felizes, e eu estava mais relaxado, tinha perdido meus escritos, mas o único que eu conseguia pensar, era foda-se, eles nem eram muito bons. Caminhei até a beira do rio que fronteiriza minha vida e me atirei no chão, as pedras incomodavam um pouco, e eu tinha quase certeza que tinha quebrado algum osso da mão.
Ouvi um barulho, gemidos, alguém estava trepando, e eu me senti incomodado, lembrei da mulher no bar, mas tinha muito mais graça imaginar, que fosse outra mulher que não ela, a do bar era gostosa, essa estava trepando, era quase a diferença entre estar vivo e morto, os gemidos viraram gritos, e eu fui me aproximando, ela gritou quando me viu, o cara ainda pelado veio pra cima de mim, achou que eu fosse um tarado, acho que eu era, acertei ele com a mão cortada, ele caiu, o sangue dele era mais claro, contrastava com o meu, não parecia muito espesso também, não gostei de como corria, ela gritou mais alto, acertei nela também, o sangue dela era melhor, tinha uma tonalidade mais forte e parecia ter um cheiro, algo como o cheiro do orvalho, então os dois gritaram mais, bati até que parassem, quando tudo ficou quieto, voltei pra meu lugar na beira do rio.
Vi a água e me lembrei de todos os dias que me levaram até ali, de todo o sangue que já correra pelas minhas mãos,  me senti excitado, mais excitado do que com o casal transando, mais excitado do que nas melhores trepadas da minha vida. Agustin, está aqui, baby, pensei, com quem eu falava, talvez com a infâmia companheira de todas as horas, talvez com a puta dor de cabeça que cessara depois que aqueles dois pararam de gritar, senti vontade de voltar ao bar, acabar de uma vez por todas com aquele grandão filha da puta, mas isso não me excitou, o sangue dele também não tinha muita graça. Coloquei meus pés na borda e pulei, nadar me purificaria, as feridas doeram um pouco, em seguida a dor cessou. Nadei até o outro lado, cheguei ao país vizinho, estava frio mas eu não sentia nada, apenas uma excitação crescente, na beira do rio, tinha um carro com os vidros embaçados, lá dentro tinha um casal transando.

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