Queria uma bebida forte. Uma dose de absinto, por favor, e
um beijo da mulher mais quente do local. Eu a beijaria e a mandaria embora
insaciado e ela também, só queria um beijo, nada mais, meu corpo é um templo
quase sagrado pra mim, nem o absinto muda isso. Até pensei, por um segundo que
uma noite de sexo com aquela total desconhecida, não seria ruim, uma leve
excitação me percorreu e eu senti que algo crescia na região da cintura, não
dei muita bola, pedi mais uma dose e mandei que ela fosse.
Ela não gostou muito, eu não me importava. Simplesmente, era
eu e o líquido verde, pensava se em algum lugar, num universo paralelo, em
outra face do diamante quiçá Poe ainda se chapava de Absinto, Wilde talvez, eu
queria um papel, peguei um guardanapo e roubei a caneta do garçom, ele quis
argumentar, eu não disse nada, mas recuou depois que sua mão aferrada no meu
braço recebeu uma resposta negativa dos meus olhos, com louco não se mexe deve
ter pensado, gostei da idéia de que outros pensassem que eu era louco.
Um sujeito grandalhão, parou do meu lado e ficou me
encarando, eu fingia que não via, queria escrever, não ficar olhando a cara de
um otário, metido a macho, ele disse, hei, e eu ignorei, ele repetiu, só que
dessa vez com um adendo.
- Hei, seu otário, tô falando com você.
Baixei a cabeça sabia como aquilo terminava, peguei o copo
de absinto, ele estava na mão esquerda, pensei, que merda eu sou destro. O
sujeito se aproximou, meu movimento não foi muito preciso nem ágil, mas como
ele também estava bêbado, o golpe encontrou o meio da testa do grandão. Ele não
caiu, mas o sangue o deixou assustado, meus socos não eram fortes, mas quando
ele percebeu o que tinha acontecido, já estava no chão.
Me levantei e sai do bar, as duas mãos sangravam, eu não me
importava, caminhei pela rua, era uma noite bonita, as estrelas pareciam
felizes, e eu estava mais relaxado, tinha perdido meus escritos, mas o único
que eu conseguia pensar, era foda-se, eles nem eram muito bons. Caminhei até a
beira do rio que fronteiriza minha vida e me atirei no chão, as pedras
incomodavam um pouco, e eu tinha quase certeza que tinha quebrado algum osso da
mão.
Ouvi um barulho, gemidos, alguém estava trepando, e eu me
senti incomodado, lembrei da mulher no bar, mas tinha muito mais graça
imaginar, que fosse outra mulher que não ela, a do bar era gostosa, essa estava
trepando, era quase a diferença entre estar vivo e morto, os gemidos viraram
gritos, e eu fui me aproximando, ela gritou quando me viu, o cara ainda pelado
veio pra cima de mim, achou que eu fosse um tarado, acho que eu era, acertei ele
com a mão cortada, ele caiu, o sangue dele era mais claro, contrastava com o
meu, não parecia muito espesso também, não gostei de como corria, ela gritou
mais alto, acertei nela também, o sangue dela era melhor, tinha uma tonalidade
mais forte e parecia ter um cheiro, algo como o cheiro do orvalho, então os
dois gritaram mais, bati até que parassem, quando tudo ficou quieto, voltei pra
meu lugar na beira do rio.
Vi a água e me lembrei de todos os dias que me levaram até
ali, de todo o sangue que já correra pelas minhas mãos, me senti excitado, mais excitado do que com o
casal transando, mais excitado do que nas melhores trepadas da minha vida.
Agustin, está aqui, baby, pensei, com quem eu falava, talvez com a infâmia
companheira de todas as horas, talvez com a puta dor de cabeça que cessara
depois que aqueles dois pararam de gritar, senti vontade de voltar ao bar,
acabar de uma vez por todas com aquele grandão filha da puta, mas isso não me
excitou, o sangue dele também não tinha muita graça. Coloquei meus pés na borda
e pulei, nadar me purificaria, as feridas doeram um pouco, em seguida a dor
cessou. Nadei até o outro lado, cheguei ao país vizinho, estava frio mas eu não
sentia nada, apenas uma excitação crescente, na beira do rio, tinha um carro
com os vidros embaçados, lá dentro tinha um casal transando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário