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quarta-feira, 20 de junho de 2012

A Gente dá um jeito

Soa errado. Muito errado, esse papo de fim é meio estranho pra quem ainda busca um começo. Não a gente não foi par, mas foi também. Lembro daquele dia, naquele porto na Havana, do barzinho que tocava Buena vista social club, enquanto a gente jogava sinuca numa mesa caindo aos pedaços, eu até ganhei uma ou duas, mas no fim, como sempre, tu levou a melhor. Era bom, aquele chopp misturado com rum, lembra? Nos disseram que era uma bebida típica, e a gente não soube dizer que não. A gente, nunca diz, quando o negócio é bebida.
Aí, fomos pra aquela festa muito louca, onde o Magal cubano tocava, tu gostou, muito embora tenha ficado o tempo todo dizendo que só o Magal era o rei. Eu te disse, que o Polito é o el Rey, e tu me deu um tapa daqueles, as pessoas nem notaram, tava todo mundo concentrado demais, depois, um beijo e dizes que é carinho, e a gente começou a nossa dança e todo mundo riu de nós, afinal eles são cubanos, tem o ritmo e eu sou todo duro( por favor, sem duplo sentido).
Depois corremos na rua, por sorte tu saiu de rasteira, e os cachorros vieram atrás de nós, te levei até o portão da casa do Sílvio, e tu começou a cantar, dizendo que tua voz era muito mais bonita do que a dele, dessa vez eu tive vontade de te dar um tapa, afinal,era o Sílvio, mas te poupei por que eu sou mais legal, e tu ainda diz que eu não tenho paciência, paciência deveria ser meu segundo nome, bem melhor que o que meus pais me deram, bom, mas eu não quero falar nisso, vou voltar aquele dia, o nosso primeiro na Havana. Lembra do hotelzinho e de como tudo parecia vir de um mundo que a gente não conhece, como tudo parecia de um tempo que não esse,tu me perguntou onde deveria ser a Gonçalves deles e eu ri, caminhamos de mão dadas e fomos comprar cigarro e tu falou daquele jeito brilhante sobre teus tempos de ativismo político, e eu te beijei, logo que tu parou de falar, por que eu sabia que era isso que eu deveria fazer. E a gente tava ali no meio da rua,na verdade era uma avenida perto da orla, chamava-se Malecón, no meio de uma revolução eterna, e quase ouvíamos a marcha do Che, e do Fidel, tomando a Havana.
Dormimos pouco aquela semana, tínhamos muitos lugares pra visitar, muitos bares pra beber e brigar, e no resto do tempo a gente fazia amor em outro país, mais que isso estávamos no caribe, que tal isso, eu quis conhecer Playa Girón, e tu foi comigo, mesmo sendo cedo e estando com muito sono, eu te subornei com cigarro, era o único jeito de te tirar da cama. Fomos lá, os pescadores já estavam no mar, falamos sobre o Granma e de como deve ter sido mágico o momento da entrada em Cuba.
Lembra( dei uma pausa pra rir), daquele tombo que eu tomei na frente do ministério do interior, tu veio me ajudar, mas ria mais do que qualquer outra coisa, se fosse em outro lugar eu talvez risse junto, mas pô, eu tava na frente de uma das maiores realizações do Che, e é certo que ele andava por ali, ele deve ter pensado que eu era um idiota, não que eu não seja, mas ele não precisava saber né?
Mas tu também caiu, não foi na frente do Che, e tinha a desculpa de tá bêbada, aquele teu giro pode funcionar muito bem em terra brasilis, mas os cubanos não estavam preparados,e o pior é que todo mundo viu, tu não levou muito na desportiva quando eu ri, mas eu merecia minha vingancinha. E quando a grana acabou? Afinal, a gente não tem muito dela, achamos que íamos ter que lavar uns pratos, mas seguimos nossa lógica de que a gente dava um jeito. E demos mesmo, saímos de lá, com nossa dignidade quase intacta.
Chegamos em casa e o mundo não tinha acabado, nossas vírgulas ainda estavam no lugar, e quanto aos pontos eu só via reticências, usadas naqueles dias em que as virgulas não serviam por serem curtas demais, chegamos aos parênteses algumas vezes, mas no mais das vezes, as reticências bastaram, e depois delas, a frase que vinha normalmente era a mesma, aquela lá de cima, dos últimos dias na Havana, a gente dá um jeito.

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