Estava cá, com minhas canções. Aquelas que guiam os meus dias e são partes vitais de mim. Ismael Serrano cantava Recuerdo. Percebi que já há algum tempo não a ouvia. E pior, ainda mais doloroso do que essa( já dolorosa) descoberta, compreendi que finalmente o compreendia. Entendia, sua voz embargada, seu quase choro ao falar daquela moça no vagão.
Estava cá, comigo mesmo( o mais infiel dos meus companheiros) e aquela canção desabou sobre mim, com sua dor sutil, com seu aroma de adeus eterno, com seu gosto de vida expirada, seu ruído de silêncio ancestral. E estando comigo, com meu silêncio e com aquela canção chorei sem derramar lágrimas, um choro interno, sangrado, fatal e inesquecível como uma canção do Sílvio.
E então aquela canção acabou. Ele olhando a janela do trem( poderia também ser um ônibus), e a vida se esvaindo e ao seu lado apenas o vazio. O vazio de estar vazio, de não ter quem sempre se teve, mesmo antes, mesmo depois. O violão silenciou, chegou ao ultimo acorde, a ultima parada, quiçá.
Ela desceu( era ela, apenas por ele ter pensado que sim¿) e os passos dela foram se despedindo dele. E o sorriso dela foi sorrindo dentro de cada lágrima represada e cada vez que o sapato dela pisava o chão, pisava um pouco mais fundo naquele ponto insondável que existe entre a boca do estômago e o coração, aquele invólucro( ainda não encontrado pelos cientistas, apenas identificado pelos poetas) onde repousam os amores.
E ela se foi, e ele se foi junto com ela, ainda dentro da canção e me levou um pouco com ele. E estamos indo, quase a seguindo, como para ter certeza, ou para não ter jamais. E a seguimos, sentados naquele vagão de trem( naquela poltrona que sempre vai ser a mesma), e vamos com ela, mesmo que ela não nos veja, mesmo que ela não nos leve com ela.
LINDO. Lindo demais.
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