Estou chovendo no teu abraço, naquele com gosto a manhãs de sol. Chovendo no teu beijo, aquele com aroma de noites estreladas, chovendo na tua revolução, no teu sonho de tanto tempo, de tantas vidas, naquele sonho Guevariano, que desconhece fronteiras( as humanas, não a do mistério).
Estou chovendo no teu jardim, nos teus dias de sol, chovendo no teu sono sonhado, na aventura quixotesca que é estar vivo. Estou chovendo no teu bem, tão melhor e mais puro do que o meu, chovendo nesse nosso encontro que sabe a tua pele, que sabe ao teu tom, ao acorde mais belo e puro da tua voz.
E andas chovendo por aqui, dentro desse casulo que eu construí depois de tantos sonhos naufragados, afogados dentro de uma garrafa jogada ao mar. E choves em mim, quando és sol, choves em mim, quando és lua, choves nessa primavera que inventastes, por conseguinte, choves em ti mesma, e desabas teu oceano de gotas de chuva sobre o mundo que se limpa, e apaga as nuvens.
Choves, como chove ainda em Macondo, sobre os corredores da fantasia, choves suave, apenas ajudando as flores a seguir o seu destino e florescer. Choves sobre as fadas escondidas no mundo nosso, cansadas de propor magia a quem só quer metal.
Choves, com teu brilho de estrela cadente, sobre cada dor que o mundo cria, sobre cada criança que dorme com fome por que o mundo insiste na justeza do que é injusto. Choves sobre a dor da pobreza, sobre a dor do esquecimento, mas quando choves sobre o que é feio, vens como temporal, com tua força revolucionária de tantos mundos. Choves sobre aquele dia, triste dia( que as vezes parece eterno), em que o mal venceu o bem, em que as forças da Cia, assassinaram o che( e tudo ficou mais feio), naquele dia, em que morreu García Lorca, em que Allende deu adeus a vida, no dia em que torturam e mataram Victor Jara, no dia em que o mundo despediu Facundo Cabral.
Choves sobre a carta que vitimou Rodolfo Walsh, mas que ainda assim o mantém vivo, e por choveres sobre todas as coisas que choves, há de viver toda memória desse mal que só aparece( para olhos não treinados), quando contraposto com teu bem. Choves, hás de chover, tens de chover, é minha única esperança de um amanhã melhor.
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