Te recordo, Amanda. Como recordo aquele dia que não vi. Aquele onze de setembro. Aquele, sim aquele, e não o outro. Simplesmente recordo daquele em que sonhos que ainda caminham comigo foram sepultados, e a liberdade que professo e que admiro foi diminuída a um tamanho de quase invisibilidade.
Recordo, pois hei de recordar, muito embora esta embalagem que hoje me aceita não fosse mais que promessa do escritor arrogante e hipocondríaco que hoje sou. Recordo, pois, não posso esquecer, bem como Jara, jamais pode esquecer-se de Hiroshima. Recordo, pois tenho o sangue vermelho, e por que ainda há vida em toda morte iniciada naquele dia.
Recordo-te, como alguém que lembra tanto, pois foi lá, naquele dia(muito embora não o tenha sido), que tropas Franquistas assassinaram García Lorca, pois foi lá, embora todos saibam que não foi assim, que aquele soldadinho boliviano armando com um rifle americano enviou para a imortalidade Ernesto de La serna Guevara, recordo com um sentimento indefinível híbrido de fé e pesar, daquele dia, Amanda, em que Victor Jara foi morto.
E recordo como quem jamais poderá esquecer-se das palavras sempre vivas de Facundo Cabral, morto tanto tempo depois (naquele mesmo dia), por mãos imperdoáveis. Recordo por que aquele 11 de setembro de 1973 ainda não chegou ao fim. Os que sorriram aquele dia, ainda sorriem hoje, e os que choraram, ainda o fazem, como se o tempo tivesse parado e só nos tivéssemos continuado. Vivendo e morrendo sob a regência de regras que não são nossas.
Recordo pois ainda está em mim o fervor das tardes de guerra que não vi, o grito das mães argentinas que jamais souberam em que vala seus filhos foram enterrados. Te recordo, Amanda. Pois recordar é o melhor que posso fazer. Muito embora o mundo hoje chore por duas torres, eu choro pela morte da liberdade, aquela de há tanto tempo, neste dia que ainda não acabou.
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