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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A MOÇA DO SONHO

Onde hão de parar os sonhos extraviados. Não me refiro às utopias, dessas já conheço os cemitérios onde calam seu ardor de eternidade. Me refiro aqueles sonhos que nos beijam enquanto somos sono. Sonhos que sonhamos, misto de inconsciente e fantasia, de amores mal vividos e de perguntas sem resposta.
Chico tem razão, há de haver algum lugar. Um labirinto de minotauro, uma liquidação de loja barata, um armário mofado adormecido em um galpão mal vedado a mercê da chuva que insiste em tocá-lo. Há de haver este lugar, e hão de estar lá meus sonhos mais valiosos, aqueles que adormeceram quando eu despertei, os que se foram mas ainda me guardam, vigilantes guardiões da poesia que me tem.
Me esforço, fecho os olhos, me visualizo dormindo, Aquela criança cansada dos dias de correria pelos corredores da infância, e lá num canto, num pedaço de tela pintada, naquele quadro que me tem eternamente em suas retinas, posso vê-los, intranqüilos, ávidos, não saciados, clamando por mim, em seu silêncio fúnebre e gritado.
Sinto seu cheiro e vou em sua direção, com pressa, vestindo passos que não caminho. Cada segundo me afasto mais, como se caminhasse ao contrário, como se fugisse deles. Desisto cansado, derrotado, abro meus olhos( agora repletos de lágrimas que não se atrevem a cair) e me jogo sobre as cobertas com as roupas que me cobriram durante todo esse dia.
Durmo e um novo sonho me nasce, distinto de todos, belo, vencedor, forte e repleto de esperança e fantasia. Corro por ele, como quem tem pressa, como quem sabe, que as coisas boas acabam rápido demais. Como quem sabe que as coisas boas não sabem esperar pela gente. Abro um sorriso, beijo uma bela donzela e desperto. Nada, nem o gosto da donzela, nem sequer seu olhar, nada que veio antes, nada que veio depois, o sonho se foi, e eu mais velho tento voltar ao sono, buscando aquele sonho, ou algum outro que já tive e que nunca mais vou encontrar.

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