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terça-feira, 6 de setembro de 2011

O DIA EM QUE A TERRA SE MOVEU

A terra está se movendo. Quase posso senti-lo. Leva-me com ela, me caminha, portanto. E eu, antes parado, me decido ao movimento. Sem sentido, sem norte, sem passos marcados, com sapatos de diferentes tamanhos. Às vezes piso mais forte, minhas pegadas ecoam mais fundas pelos corredores do mundo. Em outras, quase inaudível, como um gato veloz e arisco que acaba de inventar a noite.
Constante mudança natural, essa de haver partido. Pois parti um dia, muito embora, seja muito novo para ter partido. Me mudei, estou mudado( muito embora essa frase não seja minha), e o fiz tantas vezes que essa minha pele camaleonica quase foge de mim, e me deixa fadado ao que tenho por baixo. Essa crosta de coisas insondáveis, impronunciáveis e tantas vezes inconcebíveis.
Me mudei da terra que me viu vir ao mundo. Das pessoas que ainda vivem por lá. Me mudei de tudo que a define, e que também me definiu por tanto tempo. Mas não me mudei do meu mundo, desse que agora tento despedir. Ainda não fui a alcova da moça mais bela, apenas para vê-la dormir, não cruzei os horizontes, que eu sei me esperam, quase tão ansiosos quanto eu.
Ousarei ousar. Ser antes de pensar. Ousarei pensar que o que penso não vale tanto quanto eu pensava. Ousarei admitir( muito embora me doa) que Pessoa tinha razão e não eu( mania megalomaníaca essa minha de achar-me sempre certo) e que não sou nada e que jamais serei nada, muito embora tenha em mim, todos os sonhos do mundo.

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