Meus passos sempre foram vagarosos. Nunca tive pressa para nada, não sou um desafiador de relógios. Não tenho vocação pra desafios que não possa vencer. Mesmo que perca algumas vezes alguns que poderia ter vencido. Todavia meus sapatos andam meio apressados nestes últimos tempos. Neste tempo de uma vida distinta da vida distinta que eu assumira antes como minha.
Tive dias mais felizes, outros mais tristes. Dias sublimes em primaveras não tão distantes. Mas a pressa essa protagonista do cotidiano da raça humana, nunca andou comigo. O que irrita muita gente, e que me irritava as vezes. E hoje, a cada segundo mais longe daqueles dias de amor e de guerra, tomo a pressa como minha e me torno um corredor. Ouvi de minha mãe certa vez, os que correm contra o tempo morrem cedo. Será?
Ouvi de uma cigana certa feita que eu não passaria dos vinte e nove anos. Desde então vou galgando meu lugar na imortalidade do papel. Do resultante do contato com a pena( ou com a tela do computador nestes dias de frialdade), escrevendo minhas felicidades( e ainda mais as minhas infelicidades) como Balzac, respirando para escrever e escrevendo para não sufocar.
Escrevi a minha história. E a contei para mim mesmo tantas vezes que quase me surpreendo com o quão verossímil ela parece quando a olho com outros olhos que não os meus. Não vim aqui, para falar de morte. Há tanta vida sendo emprestada ao papel nesse momento, por meus dedos ainda rápidos e apaixonados por essa necessidade humana de caminhar.
Vim, falar de vida, desses fragmentos de mim, guardados em papéis que o tempo há de ler e de julgar seu verdadeiro valor. Se é que há algum valor. Me atrevo a falar do fim, apenas por saber-me no meio do caminho, um pouco mais pra lá talvez, desimportante certeza de saber que ando vivo, pois tenho meus escritos, minhas vontades e repouso na memória de alguns. Posso falar de morte pois estou transbordando vida, e assim vou continuando, até que o invólucro que me tem, fique vazio.
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