Tá tudo bem, é sério. Não tem problema. Eu também não sou
tão bom assim. E tem mil outras coisas que nos cercam. É passado, é presente, é
uma idéia de futuro. Sério, tá tudo bem. Ainda vais me empurrar no meio da
noite, e eu vou ficar com frio, destapado de ti, sob as cobertas que nem de
perto lembram teu calor. Mas é sério, tudo bem.
Eu ainda quero ficar contigo, quando o dia acaba sem
nós, ainda quero ficar contigo quando
esfria, e nos dias quentes também. Mas Pô, vamos ser sinceros, o que te faz
querer ficar comigo, tá legal, eu não sou feio, mas qualquer um que enxergue
sabe que também não sou tão bonito assim, talvez realmente, tu sejas aquelas
garota do conto do Bukowski, acho que era Cass o nome dela, bonito nome, mesmo
que não lembre, meio que lembra o teu.
Ela me paga o jantar. Uma sopa
vegetariana, leva de tudo um pouco, eu até ajudo a fazer, mas faço a minha
parte bem mal feita. Ela dá uma cheirada no copo antes de servir o refrigente
de citrus de que a gente vinha falando há dias e finalmente eu achei no
supermercado. Falo algo fora de lugar, ela pega o copo cheio e ameaça jogar
tudo na minha cara, me protejo com o antebraço, porque ela é bem capaz de jogar
tudo na minha cara. Alguém pode até dizer que ela é maluca, e eu não discordaria
mas essa é uma das coisas que eu amo nela. Sou meio certinho demais, muito
embora quase ninguém perceba, sou duro demais por ser tão mole, ela vê
isso, enquanto quase ninguém mais vê. E isso
é outra coisa que eu amo nela.
E sabe o que ela odeia? Odeia que eu diga que há coisas que
eu amo nela, ela não entende como alguém pode gostar tanto assim dela, o que
dizer amar. Eu digo, essa garota é maluca, e eu sou maluco quando ando com ela.
Tá tudo uma bagunça, a gente até dá um jeito no quarto, mas no fim do dia eu já
baguncei tudo de novo, procurando uma blusa que ela deu um jeito de perder
dentro do próprio quarto, e ela anda de lá pra cá, atrás da maquiagem e
reclamando por que tá atrasada e a amiga dela vai ficar furiosa e juro que
nessa hora, eu paro pra olhar pra ela e tudo fica quase respondido.
Ela vê, enxerga, e se expõe, e fala, mas na verdade, ela não
fala muito, não. Ela tá escondida embaixo das coisas que conta, embaixo dos
escudos, e eu olho pra ela e vejo um espelho, bem mais bonito, mas um espelho. E
penso, essa é minha garota, acho que sempre vou pensar assim. Pode ser que eu
esteja errado, que eu mude de idéia amanhã, mas hoje eu tenho certeza, não
importa o que aconteça, toda vez que eu souber que ela está se escondendo eu
vou pensar: Essa é minha garota.
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