É ali no espaço vazio, onde antes havia anéis, correntes, e pulseiras brilhando, onde havia dedos e caricias, onde havia beijos e sorrisos, ali mesmo, naquela cadeira vazia esperando por mim, ali naquele meu não ser retratado, naquela foto minha que não tirei, no poema que nunca escrevi guardado na gaveta, na canção que não cantei, na lágrima doída, derramada, que jamais derramei.
Ali como um cisco no olho, como uma torção no tornozelo por que fui atravessar a rua correndo, em cada vez que meus joelhos cansados pelo futebol ficarem fazendo barulhos esquisitos e resolverem resolver incomodar, vou lembrar do teu sorriso, por que toda pequena dor sempre faz te trazer, sempre te imprime aqui, nesse espaço da foto em que nunca mais vou estar.
É ali, sua desgraçada, naquele espaço que ocupastes e que agora emprestas ao nada, ali que eu repouso como um morto caminhante, ali, na tua inaptidão em aceitar minhas inaptidões, é dentro da tua falta que eu invento o jazigo onde aceito residir. É dentro daquela dorzinha que teus pés me caminham, me deixam aqui embaixo, preso em um grito que não tenho.
Ali dentro daquele sorriso que só tive quando os meus lábios eram teus, naquele brilho de olhar que poderia mudar o mundo, que só andou comigo quando teus olhos brilharam comigo. Ali, dentro, tão dentro que eu quase não posso tocar. Aqui, dentro, bem aqui, onde nenhuma camada de coisa alguma consegue penetrar por mais que eu tente. Aqui, ali, aí, em lugares demais, na dor nos joelhos, depois de jogar.
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