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domingo, 10 de julho de 2011

Beijos desmemoriados

É tarde, sei que a noite já é alta e que minhas palavras são concebidas por um híbrido de sono e de álcool que sempre andam comigo, mesmo quando não tenho sono ou não bebi nada que pudesse me embebedar. Sei que já era tarde e que sempre é tarde se pensarmos em tudo que já passou.
Algo me surge, algo como a idéia de que sempre se recomeça, em cada acorde de Marley ou de Peter Tosh, em cada gole do nada que a noite nos empresta, e em todas as vezes que meus olhos fechados pensaram nos teus. Em todos os dias seguintes em que uma amnésia inexorável se apodera de nós, por força do destino, dos caminhos noturnos, ou simplesmente, por que teria de ser assim, sem porquês, sem outras respostas, sem outros finais.
É tarde eu sei, talvez seja tarde demais, o que foi esquecido talvez esteja realmente perdido, os passos de dança, teu jeito de andar perdido deles, obviamente me refiro aos teus passos, aos amigos que ficam piores do que nós, sem contar os que nos fazem ser expulsos de lugares onde recentemente éramos bem quistos.
É tarde para lembrar dos beijos que não lembras( os que me destes e os que me negastes), é tarde eu sei para lembrar das conversas gritadas em banheiros de lugares onde sequer eu poderia estar. É tarde pra lembrar, e sempre é tarde pra lembrar quando se esqueceu. Ainda lembro, pois eu haveria de lembrar. Ainda lembro, pois tenho essa mal. Essa coisa de desmemoriado que jamais esquece. Tenho aqui comigo, dois beijos ou três, os que me destes e os que não, guardados no bolso da calça, nos olhos grandes que tenho por sina, nos dedos ligeiros que escrevem essas linhas.

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