Quintana disse que cada vírgula sua era uma confissão, pra mim, que não sou Quintana e nem blasfemaria em comparar-me a tal mestre, cada vírgula, cada suspiro contido entre o movimento da pena e o seu contato imutável com o papel é um pouco mais que isso, é um pedaço de mim, um centímetro a mais de corpo que vou deixando por aí, qual fosse um fruto, um feto, um filho que eu e minha solidão noturna de poeta fomos capazes de conceber, de nomear, de amar, simplesmente por compaixão, egocentrismo, egoísmo ou algo que o valha.
São impressões digitais, cartas enviadas para amores que ainda nem vivos estão e que nunca serão meus, são meus astros, minha noite clara, minha ausência total de luz, são meus oitos e meus oitentas, são tudo o que tenho. Sempre digo isso, na realidade, minhas palavras são na verdade a única coisa que tenho, o resto é um arremedo de outros restos. Mas elas, as minhas palavras, me levam por aí, por corredores infinitos da poesia. Por janelas, em que Borges ainda está vivo, em que Quintana ainda escreve meio emburrado, com as coisas que o mundo obriga-o a responder.
E colorem as minhas noites, sim, pois, eu não nasci para os dias. As noites sim guardam as melhores aparências que sei ter. As noites guardam as canções, as poesias e os poetas, e pasmem, guardam também o coração das mulheres, uma mulher pode até gostar de você durante os dias, mas só o amará( ou odiará, que no es lo mismo pero es igual), durante as noites. As noites e os poetas são como corações de mulheres, por isso, e apenas por isso, apenas a poesia pode salvar o mundo, Quintana que me perdoe por usá-lo, mas agora, nesse fim, que não termino, venho dizer que não me esforço pra fazer sentido, pois quem faz sentido é soldado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário