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domingo, 12 de fevereiro de 2017

CONFIESO QUE HE VIVIDO

Foram décadas, séculos, milênios talvez, engarrafados numa garrafa que um dia após um naufrágio algum menino de olhos grandes de outro tempo há de encontrar. Os fólios ali contidos hão de contar uma história cheia de coisas mal contadas, mas principalmente de segredos que só a gente sabe. É o nosso crime perfeito. Certas coisas tem que ir e agora te vais tu. Qual fosse eu um barco a deriva que despede a terra em um arco destinado ao fundo do mar.Quando meus dedos cansados e doloridos( das bobagens da noite passada) encontram a pena, eu compreendo finalmente que vou ao papel como quem crê busca um padre, um Deus, ou um trago. Venho ao papel com a necessidade de confissão. Confessar minhas culpas e buscar os meus perdões, aqueles que precisam ser perdoados quando alguéns não são quem poderiam ser. Confessar sobre minhas janelas fechadas quando abriste as tuas aos meus dias, fazendo a tua luz entrar. Eu te perdôo pelo amor que me destes e estou tentando me perdoar também pelo amor todo que há de ti, mas que não soube ser amado enquanto dois. Confesso, assim como Neruda fez há tanto, que “he vivido”. Que fui embora de nós, todas as vezes em que ficar se tornou necessário e agora que te vais, percebo que deverias tê-lo feito há tanto. Nos encontramos, na curva errada, quem sabe? Numa que não nos esperava, fomos temporal em um rio de cidade tranqüila. Os grandes amores costumam nascer na hora errada, deve ser uma armadilha do destino para que possam ser testados. E na verdade quem fica realmente junto quando encontra algo tão forte e tão intenso. Nunca vi acontecer, talvez não seja possível. Certas coisas tem que ir e tu te vais pra não mais. E eu vou caminhando em busca de absolvição. Da minha para comigo mesmo, e eu confesso, finalmente, que é melhor assim, que esse monte de coisas sussurradas por meus dedos são retalhos de uma canção. Uma canção que não me mata, mas que serve como adeus. Nicolás Gonçalves

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