O Vazio não é um lugar tranquilo, deveria chamar-se mar da intranquilidade
aquele espaço lunar. O silêncio não é um estado de tranquilidade, é um estado
de incessante movimento ventricular, a paz é intranquila também, pois são intranquilos
os homens que buscam-na. Toda busca é intranquila, toda paz, obtida é formada
por rios de mil vertentes de coisas nada monótonas.
Acordou ainda era noite, o suor lhe corria pelo rosto, e mil
idéias lhe corriam pela mente. Talvez fosse quase hora de acordar, seus olhos
pesavam o sono lutava contra ele mesmo, o sono, e por conseguinte, ao mesmo
tempo que perdia, vencia. Paradoxal, sentia-se assim. Vencido, paradoxalmente,
por uma derrota. Pensou no mar lunar, aquele da tranquilidade, estava em
silêncio, o mundo estava calado, mas nada havia de tranquilo naquele instante.
Olhou para o lado, buscou algum calor diferente do seu, uma
temperatura conhecida, um sorriso em nada afável, a obstinada derrota que ela
também vestia as vezes, viu-se sozinho, mesmo que ela estivesse por ali,
desenhada na parede da memória, tal qual miragem que não sabe desistir de ser
tocável, amável, beijável. Quase poderia tocá-la, e era o quase, o ser mais
perfeito na imperfeição que incomodava, que doía, que vencia o sono, que
impedia que a tranquilidade fosse um lugar tranquilo.
Enfim, o dia chegou. O sono não chegou mais. Apesar de
sempre estar ali a espreita, como ela andará, como andará seu dia, quem sabe
ela me leia, quem ela me busque, quem sabe a gente se encontre, numa dessas
curvas que sempre nos levaram ao encontro, e eu fique intranquilamente
tranquilo num abraço que me prenda e que me solte, como o paradoxo lunar, como
o paradoxo do olhar, que eu não sei se um dia há de ser meu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário