São 01:54 do dia 29 de setembro de 2009
PANADIRAM
Apenas uma folha em branco e uma caneta quase sem tinta, nada mais importava. Na verdade o mundo não tinha tantos tons para o nosso herói, apenas o tom tinto de um vinho chileno, lhe despertava paixões imaginárias que fugiam imediatamente para o papel.
Não acreditava na esperança, e seus poemas guiados pela sobriedade, eram de desesperança e de dor, daquela dor incontida, que fingimos conter na galáxia particular, que adormece em nosso peito. Nos seus lábios guardava a frieza da palavra e nenhum amor lhe era sequer emprestado.
Escreveu seus poemas, e muitos( e muitas), o amaram por isso, tornou-se grande, conhecendo apenas o infinito que brota em uma folha de papel. Bebeu poções de amor, cantou canções,e ainda assim, nada pôde fazer com que o brilho em seu olhar, tomasse outra direção, e fosse puro, como o amor, real e simples tem de ser.
Numa noite feito esta no desaguar de mais enfadonhas linhas, maldisse os céus por seu desamor, e sentiu- se como um deus perante o nada, com tantos se's e nenhum sim, muito infinito, e poucas coisas pra tocar, muita lágrima e pouco sorriso, sentiu-se maior do que isso, debocahando de qualquer coisa em tom divino.
Pediu um sinal, em ironia, rindo da fé infinda e tola dos humanos, e escreveu com ar prolífico, todos os versos, que o universo lhe reservara. Nasceram incessantemente, um após o outro, sem qualquer pudor, ou classe, foram arremessados contra o papel, com a dureza de uma mão militar. Todos igualmente duros e fatais como uma arma, que mira inverossímil o peito do poeta recém nascido, muito jovem para saber de amores.
O céu estava aberto, bela noite para contemplar as estrelas, todos os transeuntes, amantes, e poetas do universo se alinhavam com o horizonte, e repousavam o olhar cansado e sonhador, no negror da noite, contraposto por estrelas.
Foi ali, entre um segundo e o outro, que os olhos de todos os desavisados sonhadores, chamuscaram, e milhares de lágrimas caíram, a beleza de um meteoro rasgou o manto universal, subjugando as estrelas, que imóveis observavam o brilho que havia naquele corpo celeste.
E os olhos dele, puderam adivinhar um olhar, naquela aparição fugaz, um pedido desesperado, de quem só quer fugir, um canto silenciado pela distância e pela densidade do fogo que o cercava, ainda assim, nosso herói pôde ouvi-lo, era algo como um canto céltico. Algo como o grito de uma raça ameríndia, um canto índio, um canto de libertação. Até hoje, os que puderam presenciar tal aparição, se perguntam, o que ele terá ouvido. Pois ninguém sabe, e agora, jamais saberá.
Desde aquele dia, o universo ganhou cores distintas e expandiu- se em uma velocidade incomum, a primeira reação dos poetas, foi escrever, todavia, o nosso herói não sabia como descrever o mal que lhe acometia, não compreendia, e não podia escrever, pois queria respostas, os astrônomos teriam de saber, quem era aquela jovem que tanto lhe confundira e encantara. Não havia tempo para fantasias transcendidas ao papel, era tempo de saber o que o mundo teria de fazer, para capturá-la. Capturar a beleza, que há muito não se via neste universo.
Em um universo paralelo, Borges e García Márquez moviam as peças Begmannianas de uma partida densa de Xadrez, em seus olhos o desespero dos soldados mortos, e a iminente ameaça da cavalaria adversária, o clero protegido pelos reis, que assim sentiam- se protegidos por seus muros, e por seu Deus.
O relógio em um tic tac infinito, e a sanidade a ponto de esvair- se no poema que o Whitman acaba de recitar, todos eles enclausurados em um manicômio, enclausurados pelo tempo e sua loucura, em um aposento que contém outros mil aposentos. Caeiro e Pessoa discutem qual dos dois foi melhor, Aureliano reescreve o Gabo, e lhe ensina a ser livre. Um Goethe sorridente invade a letra de um Buarque espirituoso, e trovam pela noite, junto a um Dylan e um Rodriguez.
Todos dentro do mesmo olhar, da mesma face que aquele poeta divisou no cometa, todos guiados por cometas distintos, observando do alto de sua santidade o desespero transbordando dos olhos daquele poeta, que relutava em seguir seu caminho. Do poeta que não queria amar, e por isso dizia a si mesmo, que não sabia fazê-lo.
Foram dias, semanas, meses, e ele voltou a escrever, não com a freqüência anterior, mas voltou a fazê-lo e de forma distinta, foram meses de adaptação, de uma mudança profunda, que jamais ocorre da noite pro dia, mas que sempre tem um ponto catalizador.
Sua poesia, finalmente, ganhou a pureza quente e bela, que só o amor pode gerar, e ele enfrentou seus medos todos, em uma batalha universal e infinita, contra os poemas, que já havia escrito. Todas as noites, aguardou sob a luz da noite( e mesmo nas noites de chuva, ou nas noites nubladas) que o brilho daquela estrela regressasse ao seu olhar. Nada poderia demover-lhe essa idéia, era sincero seu desejo, e só os desejos mais sinceros, podem vencer a morte. O cometa Panadiram jamais havia sequer se aproximado da superfície da terra.
Os astrônomos alvoroçados, mediram suas proporções, sua velocidade e trajeto, e definiram, para o alivio da maioria dos habitantes do globo terrestre, que ele, o cometa, em que nosso herói, pode tão claramente ver o rosto de uma mulher, jamais passaria pela órbita da terra novamente.
Cientistas e especialistas descreveram o fenômeno como uma fração de poeira estelar, desprendida de um gigantesco corpo celeste, que deve ter sido destruída há milênios, e que influenciado pela velocidade da luz, surpreendeu os astrônomos, mais desavisados.
A resposta dos astrônomos foi intempestiva, e veio em forma de ridicularização dos cientistas, que desconheciam( ou ao menos pareciam desconhecer) que mesmo à velocidade da luz eles poderiam descobrir qualquer objeto que ameaçasse a existência da raça humana, e que não haveria como um corpo assim tão diminuto sobreviver no universo. Pois, se chocaria com outros corpos celestes e seria engolido.
Os jornais, destacavam as batalhas entre as duas vertentes cientificas, e o nosso herói buscava respostas , queria aquele brilho cegador, novamente em sua existência.
Durante os meses, que se passaram, ele caminhou, ao exato local, no mesmo horário, e esperou que ela retornasse, muitos o acompanharam no início, entendendo seu ato, como um protesto, e ele tal qual um Forrest Gump, apenas contemplou a imensidão do universo, sem derramar uma palavra. Apenas após algumas horas, virava- se retornava para casa, as vezes, rabiscava algo em um papel, que devolvia aos bolsos em seguida.
Sua causa, tornou- se mundial, sites na internet, uniram- se ao seu silêncio, e as salas ficaram repletas de câmeras, que monitoravam sua monotonia. Foi notícia, por alguns dias, depois tornou- se apenas um louco. Mais um, afinal.
Seus olhos foram perdendo a vivacidade, havia ainda apenas uma chama acesa, que brilhava no fundo, em uma espera infinda.
Os livros escritos, acumulavam- se sobre uma mesa, já corroída por insetos, devoradores de idéias, as poesias paulatinamente, diminuíram de proporção, e o eu do nosso herói, a cada dia mais obnubilado, escondeu- se até praticamente desaparecer.
O amor, não lhe ensinou, muitas coisas, e ele nem soube lidar com aquele sentimento, apenas soube tornar- se um poeta melhor, que sempre vai amar, ao cometa contido em seus versos, e não o cometa real e palpável.
Não mais saiu de casa, nas noites de chuva quando muito aproximava- se da janela por alguns minutos. E isso, foi por pouco tempo, afinal, ele cansara, de procurar alguém que sequer existia. Tornou-se frio novamente, e embriagava- se com uma freqüência absurda. Amava tantas vezes, assim como outrora, sem jamais amar. Filho pródigo de amores inconstantes e imutáveis, que não duravam mais de uma noite.
E foi matando- se, tal qual estrela, que sem motivos, ou porquês deixa que sua luz própria seja engolida, pelo escuridão do buraco negro mais próximo.
Os anos lhe trouxeram rugas, e o sorriso falso, além de tudo era agora amarelo e cansado. O Fígado, já não funcionava tão bem como antes, e a mão tremia um pouco, antes do término de qualquer novo verso.
Numa noite, de fim de vida, de fim de estrada, resolveu olhar pro céu, sem olhar as estrelas. E um cometa, já conhecido, cruzou-lhe o campo de visão. Mas dessa vez, estava acompanhado, por algum outro corpo celestial, com muito mais brilho, do que o poeta sabia possuir.
Foi a ultima vez que a viu, e creio que foi também seu ultimo sorriso, pois depois que se despediu em silêncio, fechou os olhos, e nunca mais os abriu. Mais um amor, que partira, mais um coração que deixava de bater no compasso correto.
Dizem que no exato local, onde o cometa deixou seu último rastro. Uma estrala cálida e fugaz surge em algumas noites de chuva. E brilha, apenas por brilhar dentro da retina de algum transeunte, que por sorte ou por azar, resolveu olhar as estrelas e não apenas o céu, e assim como o herói desta história já findada, ficou hipnotizado, e tomou como seu um amor, que há muito ficara guardado em alguma mata virgem, uma velha gaveta, um espaço sem luz.
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